sexta-feira, 23 de outubro de 2020

SURFISTA

Vem, eu fico quieta

Vem, te deixo dormir o tempo que quiseres

Vem, me coloco serena, até quando precisares

Vem, me deixa só te fazer sorrir

Assim

Leve, honesto

Vem, me machuca

Corpo, mente, alma e sexo

Adentra, ácido

E corrói com tua distância,

Toda sanidade que ainda me resta

Vem, me deixa chorar

E fingir acreditar que vais ficar.

Andrea Campelo – 23.10.2020

domingo, 28 de junho de 2020

NÃO HÁ BRECHAS


No escuro daquele vão 
Um fim de tarde frio
No dia seguinte ao que meu corpo fora rasgado
Pelas tuas mil faces
No silêncio plácido
Eu escrevi pra você.
Com olhos mareados,
A chorar a poesia que jamais seria mostrada,
A paixão que morreria sem ser contada,
O êxtase que viraria lembrança solitária.

A mulher aperta ao peito
A luz do sol de amor que guarda
Por ti e pelos que passaram.
Por não encontrar brechas
Para deixar brilhar este astro
E o expandir em suas cores...
E assim, te mostrar minha poesia, 
Minha música, minha dança...
Todo meu SER em arte.

Silencio.
O frio ganha força.
Ainda rasgada, escrevo.
Os olhos escuros
O peito mareado.
A poesia das tuas mil faces.
E da minha paixão por todas elas.
Foi sol.
Mas não há brechas.

Andrea Campelo
05.06.20

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Lugar de Para Sempre Amar

Há um lugar para onde vão todos os amores.
Mas não quaisquer.
Apenas os que não floresceram.
Os que ficaram na bruma do tempo
Os que se deixaram levar nas ondas do mar
Aqueles que tendem a machucar.

Para eles eu criei esse lugar
Onde os levo comigo
Para continuar a amar
Há em mim, assim, este lugar eterno
Onde cada amor grande que vivi, reside
Onde posso estar nele e desfrutar
Viver sem pressa a brisa dos braços que me afagaram.
Nele nada morreu. Tudo permaneceu.
Cada história continua. Linda e singular.
Cresce e floresce imortal.

E lá eu vejo meus amados...
Sorrio seus sorrisos, toco em suas mãos
Sinto cada beijo e vivo todas as noites que nunca existiram.

Lá, não há passado ou feridas
Apenas as imagens construídas nos meus sonhos mais sinceros.
Não há mistérios.

Atemporal, neste lugar nós dois não envelhecemos. Seguimos jovens a vida que sonhamos de nossas horas.
O sol brilha e faz sempre calor.

Raras as novas chegadas a este lugar.
Poucos posso levar.
Mas agora é tempo de lá ficar.
Vestir mais um amor para esta viagem de sonhar.
Lá, enfim, eu posso te amar.
Para sempre, neste lugar.

Andrea Campelo
19.02.20

Hoponopono

SINTO MUITO
Pelo amor fortuito
Plácido, gratuito

ME PERDOE
Pelo faltar que doe
E a alma frenética que magoe

EU TE AMO
Pelo que és em ramo
E sem almejar declamo

SOU GRATA
Por viver a história farta
E sair sem fazer errata.

Andrea
Campelo
19.02.20

Os 5 Elementos

SÓPRO
Pelos abismos mais profundos de mim
Movendo meus "eus" pelas longínquas constelações do sem fim
Varando Campos e oceanos de minh'alma
A abraçar o mundo sem lampejo de calma.

FLUO
Molhando as secas do meu brio
Afogando o estio do inverno vazio
Transbordando em pecado sombrio
Das ondas que me conduzem ao meu oceano mais sombrio.

ATERRO
O brilho das pedras calcadas em meu sangue voraz
E iluminam as cavernas de uma alma sagaz
Gozando em terremotos de um coração sem cais.

QUEIMO
Na brasa dos que meu desejo encerram
E com os olhos ascendem a lasciva que, num porvir, enterram
Transmuto a agonia que estala, e pela lava do meu ventre se destrói
Moldo meu mundo uma realidade quente, de um brilho que corrói.

AMO
Soprando minha intensidade de querer
Fluindo, sem limites sequer ver
Aterrando os medos que me ameacem conter
Queimando na junção estrupícia das forças, que me fazem esta mulher querer SER.

Andrea Campelo
13.02.20

Interrogações

Quantos poemas cabem em um amor?
Quantas portas podem se abrir em flor?

Por quais caminhos podem nos levar os ventos de uma história?
Quantas noites de luz e glória?

Até onde escrever o indizível é possível?
Como descrever o intraduzível?

Como guiar o que não tem direção?
Até que profundidade permite-se mergulhar na paixão?

Em que tom afinar o desejo?
Como musicar tudo o que vejo?
Me diz
É possivel não morrer, depois de provar o teu beijo?

Andrea Campelo
12.02.2020