sexta-feira, 26 de abril de 2013

Aos amores que não podemos ter

Aos amores que não podemos ter
De tudo que deixamos pra tras
Na bruma das noites passadas
No intervalo das músicas ouvidas
Na tristeza dos aeroportos
Nas lembranças mais escondidas
E nas histórias não escritas.
O que em suma se apresenta em destaque
São os amores em meio termo.
São os que mais machucam, persistem.
Em sua maioria, duram pouco.
Guardam em si uma força de impossibilidade tamanha
Que nos revela nada mais que uma alternativa:
Esquecer.
E trazem consigo um peso masoquista que tatua em nossos dias, uma áurea de auto-flagelo indescritível,
E ainda assim incrivelmente reconhecível e compreendida.
A todos se faz conhecida, familiar.
Em verdade, todos estivemos face a sua inescrupulosa e lasciva conduta.
Distâncias instransponíveis.
Diferenças culturais.
Inapropriariedades profissionais.
Incompatibilidades civis,
E outras diversas configurações.
Que cicatrizam o peito após rasgar, usurpar algo que em si sentíamos ser único.
Um amor, inquestionável.
Sentido em cada sílaba.
Jamais consumado.

E por assim o ser, é talvez de todos o mais poderoso.
Pois, em verdade, alimenta-se não das lembranças ou do gosto dos momentos
Mas do que em suma se constitui o ser amado.
Como a nós que o sentimos, não nos é permitido o gosto, do cheiro
O luxo do toque
Resta-nos a sobriedade do conhecer
Do conversar
Do descobrir não o corpo, mas o ser que tanto se deseja.
E a cada dia que passa, a dissimulada intimidade cresce
Discreta, paciente.
Em cada noite interrompida
Em cada adeus prematuro
Em cada horário de almoço estendido
E confissão inesperada.
Em todos e em cada um, infinitas descobertas
Em cada gesto, um despertar de suplício,
E a amizade se forma
Dissimulada, mentirosa.
Até o ponto de sabermos conhecer o outro.
De querermos bem.
E jamais podermos demonstrar.
O encanto que cresce não pelo viver dos sentidos
Mas pelo compartilhar da afinidade.
E, sem ter como ser diferente, o amor nasce.
Imponente, soberbo, impávido.
Sem ilusões e inocências.
Objetivo e franco.
Numa utopia patética e bela
E assim eu te amo.
Inteiramente, morto.
Persistente e franco.
Nutrido pelo que és, não pelo que vivo.
E pelo que jamais poderei consumar.
Apenas pelo que admiro.
Você e todo esse segredo.
Inapropriado e utópico.
Esse amor que não posso ter
Que tão cedo, irei esquecer.
Andrea Campelo
27/04/13

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Inverso


Em você, esse novo ser que nasce repentino
Que engole a cidade e, voraz, nutre-se de suas paixões,
Começa a morrer.
Num instante tão repentino quanto aquele em que surgiu
Ele vai embora.
Aos poucos no início, quase imperceptível.
E logo depois, inteiro, fugaz.
Tudo nele torna-se seu contrário
A paixão, tristeza.
A surpresa, previsão.
O êxtase, ameno.
As luzes amarelas, brancas.
Ficou num quarto frio, distante.
Ser antigo, conhecido.
A gritar em si a vontade de voltar para casa.
Andrea Campelo Peixoto
08/04/13

segunda-feira, 1 de abril de 2013



Onde Vive a Inspiração
Ao ver aquelas luzes amareladas, nasce outra pessoa.
Imediatamente ela pega caneta. Improvisa papel. Escreve no escuro, novamente.
Pensa em sua cidade, por que não mais a inspira às palavras.
Fica tranquila, percebe que sua Veneza é ela, a mesma. Amor dela, conhecida.
E aqui, na cidade de luzes amarelas, ela renasce. Nova, desconhecida, livre. Aqui, paixão.
A ansiedade das viagens a trabalho.
A surpresa das portas abertas.
A paixão da chegada.
Inspiração.
Ela, longe de sí mesma. E todas as outras que pode ser, aqui.
Em São Paulo.
Andrea Campelo Peixoto
31/03/13