sábado, 5 de janeiro de 2013


As viagens que o coração faz, a trabalho.
Começamos a vida profissional numa batalha sufocante, com um ideal sempre em mente. Uma realidade saudosa, que parece tão longe. Materializamos mentalmente os detalhes dessa realidade não vivida e passamos todos os nossos dias direcionados a ela. Com uma fome voraz.
E foi há pertos três meses que encontrei-me num desses meus lugares. Pensei nisso quando estava no avião rumo a São Paulo, pelo novo trabalho. E enquanto passavam velozmente os quilômetros aéreos pela janela, eu não conseguia evitar o sorriso nos lábios. Atrelado, vinha um frio no estomago, quase um medo. Havia coisas novas demais ali na minha frente. Coisas que ainda não haviam passado e exatamente por isso me apavoravam encantadoramente.
Voltava-me toda a esse novo desafio. O trabalho era a força motriz das sensações e até mesmo das horas. Elas pareciam passar única e exclusivamente para que ele pudesse acontecer de acordo com todo o esforço de minha caminhada até aquele acento da Avianca.
E assim deveria ser, não seria? Então, quem estava a pagar pelas horas no ar e as 15 noites em hotel executivo? Quem além da nova e exótica corporação multinacional era a dona daquela viagem que me levava a materialização física de minhas buscas incansáveis de outrora? Era assim, meu cérebro labutador quem deveria viver esse momento e apenas ele teria permissão para se fazer satisfeito nessa quinzena.
Era o que deveria ter acontecido.
Acabei, inocente, por esquecer a real índole de minhas entranhas. Sequer passou pela minha cabeça o fato de que sair de casa, por-me fora do meu enclausurado dia a dia seja por qualquer motivo, é mais do que um objetivo de trabalho. É uma necessidade de perfil. Isso sou eu, que pulso por essas oportunidades, guiada pela sede de um coração inquieto, curioso. O meu.
Esteve ele, então, escondido, ardiloso, apenas a esperar nessa viagem. A debochar.
Mas sua alegria sádica durou pouco. Bastaram alguns dias para que a viagem que marcara o início de meus sonhos de profissão fosse promovida a um mergulho em descobertas e sensações pessoais, das mais íntimas. E o coração foi um sabido vencedor, podendo deixar de se esconder, escancarando aos meus olhos o que Sampa trouxe a ele.
Os dias passaram repletos de aprendizado e grandeza. E no coração a viagem era quase assim tão intensamente vivida. Em horas, em sorrisos, em lágrimas, em êxtases, em ressacas e em descobertas.
E nas horas finais que antecederam o embarque de volta, tive a prova que me faltava. Uma sequencia de lapsos humanos no trabalho me levaram a uma contrariedade vasta e intensa. Passei horas no saguão do hotel, sozinha, como que com um espelho a minha frente a me chamar de ridícula. E quando tudo acalmou e o taxímetro já calculava minha corrida para Guarulhos, desabei em choro. Ele parecia vir do estomago. E saía aos soluços.
Foi quando percebi que aquilo na verdade nada tinha a ver com o estresse dos colegas. Era a outra viagem que me fazia chorar. Alí estavam saindo as rusgas, as indignações e a euforia não dita, guardada pela falta de horas suficientes. Sentia a pele latejar como um dente cariado. A frustração do ocorrido no hotel me colocara em frente ao precipício de meus limites, e meu coração jogara-me nele.
No acento da Gol, já afastando-me daquela cidade-sonho, o sorriso não estava mais nos meus lábios, ou em qualquer lugar. Havia o orgulho da conquista pelo novo mundo, colegas, ruas e afazeres. Mas havia a vontade de ficar. Pois meu coração havia viajado, e não queria voltar.
Mas os dias passaram, e novos sonhos profissionais se mostram. Tenho, então, uma nova imagem mental, uma nova realidade a perseguir. E para chegar lá, meu coração há de seguir em muitas viagens a trabalho.
Andrea Campelo
05/01/2013

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