A quinta é de nada comum.
Um dia de férias.
Afazeres, quase inperceptíveis.
Da ordem dos improvisados, selecionados por vaidade apenas.
Buscam um status e imagem, nada mais.
Objetivos esses que requerem uma abnegação mentirosa e até
certo ponto patética.
Aqui encontro-me: em plena semana não labutante, merecida
pelos 365 dias de labuta intensa, portando kilos a mais e tensões musculares… a
tentar livrar-me de ambas.
Para isso, investindo em criar um ser desconhecido,
saudável.
A palavra da vez é abtsenção.
Mas de quê?
Dos bons gostos e sabores que alimentam o espírito, não
apenas o paladar, esta é a verdade.
Negar-me a cerva santa e gélida, os tira-gostos sublimemente
regados ao descaso dos óleos e gorduras, e o pior…. A nicotina queimada nas veias.
Hoje não.
As horas vespertinas doei minha desciplina e regrei o
almoço, o café e janta.
Mas se o destino me leva ao gélido prazer de uma cerveja
noturna, que mais posso fazer?
Me é da ordem do insuportável essa privação. Em verdade, uma
negação de mim mesma.
Sou ser da noite, bohêmio.
Que encontra seu extase na bebida, na fumaça de cigarros
caros ou baratos, que complementam o sabor da noite, perfeita e irretocável.
A música guia o movimento da noite e de mim mesma. Sou dela
escrava.
Mas me prendem as rédeas do bem viver, da longevidade, do “slim
fit”.
E assim acabo por achar-me a tentar parar tudo que sou…. Parar
de SER.
Por onde ir então?
Em busca de mim mesma, ou de quem querem que eu seja?
De quem devo sentir falta?
Do que é aceito, ou do que sou?
É melhor calar.
Amanhã tem academia.
Mas hoje ainda tenho uma carteira de cigarro.
E três cervejas.
Ainda posso existir antes de morrer.
Só hoje, nesta quinta de férias, incomum.
Posso ser comum a mim.
Andrea Campelo, 22/11/13