domingo, 8 de dezembro de 2013

A melhor descrição do que ele foi... meu sonho numa noite de insonia...


Amor Prescritível
Eras o que não te sujavas em minhas lembranças.
Carregavas um peso meu, que trouxe por magoá-lo em tempos distantes.
E neste peso levaste por tantos anos, junto a ti, vísceras minhas do carinho mais sincero.
E uma grande ilusão.
Ela pintou seu quadro. Retratou o que em verdade não passava de minhas próprias vontades e desejos.
Uma projeção apenas. Minha.
Longe da desconhecida realidade. Tua.
Fui eu quem criou esta ilusão de um amor atomporal, nutrido pela impossibilidade de sua consumação.
Sequer a realidade deixei mostrar-se a mim e a neguei, transformando-a num ideal de pessoa e sentimento, que chamei de ti.
Ergui o pedestal, e coloquei minha ilusão nele, alto. Foi por todo esse tempo praticamente santa. Incapaz de me machucar.
Eram todos os meus sonhos juntos.
E eis que acreditei tê-lo encontrado novamente.
Minhas vísceras.
Meu ideal.
Minha ilusão.
Atemporal.
Desta vez, sem projeções.
O vi real, nada santo. Em toda capacidade de me machucar.
Os anos que o deixei carregar meus pesos não o impediram de cortar-me como tantos outros,  que sujaram minhas lembranças.
E na esquina deste reencontro, os pedestais, destruo.
A ilusão, desfaço.
A realidade, encaro.
As lembranças tuas, vejo sujas.
Meu coração, machucas.
O amor prescreve.
E me manda embora.
Andrea Campelo, 12/2013




sábado, 30 de novembro de 2013

Ao que de fato me falta


A noite existe, intensa e longa. Repleta de possbilidades. Infinita.

E aos 32 encontro-me nela, sozinha.

Sinto fata de tudo.

 De meu passado, meu prestente e futuro.

De tudo que fui, que acreditei e que amei em certa esquina de meus dias.

De meu presente:

Sem respostas, timido  e inexistente.

E de meu futuro…

Quieto, sem forma.

Vazio.

Sinto falta dele…

De tudo que quero que exista.

Andrea Campelo, 28/11/13, sob forte influência alcoólica.
 
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Abnegação

 
A quinta é de nada comum.
Um dia de férias.
Afazeres, quase inperceptíveis.
Da ordem dos improvisados, selecionados por vaidade apenas.
Buscam um status e imagem, nada mais.
Objetivos esses que requerem uma abnegação mentirosa e até certo ponto patética.
Aqui encontro-me: em plena semana não labutante, merecida pelos 365 dias de labuta intensa, portando kilos a mais e tensões musculares… a tentar livrar-me de ambas.
Para isso, investindo em criar um ser desconhecido, saudável.
A palavra da vez é abtsenção.
Mas de quê?
Dos bons gostos e sabores que alimentam o espírito, não apenas o paladar, esta é a verdade.
Negar-me a cerva santa e gélida, os tira-gostos sublimemente regados ao descaso dos óleos e gorduras, e o pior…. A nicotina queimada nas veias.
Hoje não.
As horas vespertinas doei minha desciplina e regrei o almoço, o café e janta.
Mas se o destino me leva ao gélido prazer de uma cerveja noturna, que mais posso fazer?
Me é da ordem do insuportável essa privação. Em verdade, uma negação de mim mesma.
Sou ser da noite, bohêmio.
Que encontra seu extase na bebida, na fumaça de cigarros caros ou baratos, que complementam o sabor da noite, perfeita e irretocável.
A música guia o movimento da noite e de mim mesma. Sou dela escrava.
Mas me prendem as rédeas do bem viver, da longevidade, do “slim fit”.
E assim acabo por achar-me a tentar parar tudo que sou…. Parar de SER.
Por onde ir então?
Em busca de mim mesma, ou de quem querem que eu seja?
De quem devo sentir falta?
Do que é aceito, ou do que sou?
É melhor calar.
Amanhã tem academia.
Mas hoje ainda tenho uma carteira de cigarro.
E três cervejas.
Ainda posso existir antes de morrer.
Só hoje, nesta quinta de férias, incomum.
Posso ser comum a mim.
Andrea Campelo, 22/11/13

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O carro passou a ponte que dividia Recife e Olinda....

Senti os batimentos sofridos dentro de mim, a pedir que retornasse dalí.
Mas estávamos quatro no carro. E as visitas, longínquas e saudosas portadoras da minha maior saudade, desejavam sentir aquela brisa nórdica Olindense que tanto atrai os que se vão.
O silencio, mais uma vez, teve seu preço. A avenida avançou e em sua memória, aquelas lembranças recalcadas voltaram.
Onze dias depois de ter deixado aquela metropolitanica cidade, ela vê aquele cenário novamente. E cada molécula, cada célula, cada átomo de seu corpo contrai-se.
As ruas passam. O carro para em frente ao bar no qual ela esteve no mesmo dia da semana, há quinze dias. Ela calou-se. Deixou a dor gritar dentro de si. E permitiu que suas amigas decidissem que não ficariam ali.
Mas a avenida beira mar continuou. Ela pode sentir como se voltasse no tempo... em que saia do trabalho e seguia pelo mesmo caminho, em rumo ao que aprendeu a chamar de casa. Não um lugar apenas, mas os braços daquele que a esperava.
Então chegara. O mesmo quarteirão. Elas pararam enfrente ao bar da noite final. Onde ela ouvira pela ultima vez sua risada embriagada. Onde comprara um souvenier infantil com seu nome e o dele. Onde acreditou no maior engano de sua vida.
Então não mais lhe foi possível o silencio, e ela o rompeu. Simples. “Não, por favor. Aqui não”. E as amigas calaram-se. Sentiram o peso de suas palavras e de seu semblante.
“Aqui vivi a ultima noite com ele”. O carro seguia devagar. Ela continuou ao chegar no ponto exato. E mostrou: “Nesta rua, naquela porta. Ali ficamos e vivemos toda a mentira que vim lhes contar”.
O carro seguiu para longe.
Ela voltou a respirar. “Podemos ficar agora. Olinda é grande e não me amedronta. Beberemos hoje”.
E quando deixava aquela cidade, ao fim daquela tarde chuvosa, olhou uma ultima vez para traz.
Por mais bela que seja, e és, nunca mais Olinda.
Andrea Campelo, Agosto 2013.

Do lado de fora está azul aberto, pulsante



Como que vindo do branco, rumo ao amarelo, que fazem os olhos quase doerem de tão intenso.
“No preasure Over Capuccino” toca em meus ouvidos e a única coisa que faço é olhar pela janela.
Meus olhos não seguem a velocidade dos pensamentos, que por fim acabam morrendo, derrotados pelo turbilhão de sentimentos que me invadem. Em um apenas, contudo, me defino: felicidade.
Pisco devagar, e choro. Infantil, vaidosa, completamente infiel a realidade do que realmente aconteceu naquele momento.
Senti papai perto. Como se sorrisse ao meu lado. Acho que os momentos felizes são assim...nos fazem lembrar do amor que temos nos cantos mais profundos, e a tona eles acabam vindo brincar. Ou simplesmente ele está mesmo aqui, feliz a me ver chorar de alegria.
A visão é como se o mar estivesse de cabeça pra baixo....
O azul em cima de nossas cabeças seria a água....e as nuvens brancas virassem as a espuma das ondas... E acaba que é sempre azul e imenso.
Meus sonhos parecem ter ficado todos para trás. E estou a chegar agora em algo real, algo que era longe... Uma ilha.
E então seja. Fique tudo pra trás. E nela o azul, e mais nada.
A felicidade assim como está agora....pulsante.
Andrea Campelo, Fernando de Noronha,  10/03/13

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Aos amores que não podemos ter

Aos amores que não podemos ter
De tudo que deixamos pra tras
Na bruma das noites passadas
No intervalo das músicas ouvidas
Na tristeza dos aeroportos
Nas lembranças mais escondidas
E nas histórias não escritas.
O que em suma se apresenta em destaque
São os amores em meio termo.
São os que mais machucam, persistem.
Em sua maioria, duram pouco.
Guardam em si uma força de impossibilidade tamanha
Que nos revela nada mais que uma alternativa:
Esquecer.
E trazem consigo um peso masoquista que tatua em nossos dias, uma áurea de auto-flagelo indescritível,
E ainda assim incrivelmente reconhecível e compreendida.
A todos se faz conhecida, familiar.
Em verdade, todos estivemos face a sua inescrupulosa e lasciva conduta.
Distâncias instransponíveis.
Diferenças culturais.
Inapropriariedades profissionais.
Incompatibilidades civis,
E outras diversas configurações.
Que cicatrizam o peito após rasgar, usurpar algo que em si sentíamos ser único.
Um amor, inquestionável.
Sentido em cada sílaba.
Jamais consumado.

E por assim o ser, é talvez de todos o mais poderoso.
Pois, em verdade, alimenta-se não das lembranças ou do gosto dos momentos
Mas do que em suma se constitui o ser amado.
Como a nós que o sentimos, não nos é permitido o gosto, do cheiro
O luxo do toque
Resta-nos a sobriedade do conhecer
Do conversar
Do descobrir não o corpo, mas o ser que tanto se deseja.
E a cada dia que passa, a dissimulada intimidade cresce
Discreta, paciente.
Em cada noite interrompida
Em cada adeus prematuro
Em cada horário de almoço estendido
E confissão inesperada.
Em todos e em cada um, infinitas descobertas
Em cada gesto, um despertar de suplício,
E a amizade se forma
Dissimulada, mentirosa.
Até o ponto de sabermos conhecer o outro.
De querermos bem.
E jamais podermos demonstrar.
O encanto que cresce não pelo viver dos sentidos
Mas pelo compartilhar da afinidade.
E, sem ter como ser diferente, o amor nasce.
Imponente, soberbo, impávido.
Sem ilusões e inocências.
Objetivo e franco.
Numa utopia patética e bela
E assim eu te amo.
Inteiramente, morto.
Persistente e franco.
Nutrido pelo que és, não pelo que vivo.
E pelo que jamais poderei consumar.
Apenas pelo que admiro.
Você e todo esse segredo.
Inapropriado e utópico.
Esse amor que não posso ter
Que tão cedo, irei esquecer.
Andrea Campelo
27/04/13

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Inverso


Em você, esse novo ser que nasce repentino
Que engole a cidade e, voraz, nutre-se de suas paixões,
Começa a morrer.
Num instante tão repentino quanto aquele em que surgiu
Ele vai embora.
Aos poucos no início, quase imperceptível.
E logo depois, inteiro, fugaz.
Tudo nele torna-se seu contrário
A paixão, tristeza.
A surpresa, previsão.
O êxtase, ameno.
As luzes amarelas, brancas.
Ficou num quarto frio, distante.
Ser antigo, conhecido.
A gritar em si a vontade de voltar para casa.
Andrea Campelo Peixoto
08/04/13

segunda-feira, 1 de abril de 2013



Onde Vive a Inspiração
Ao ver aquelas luzes amareladas, nasce outra pessoa.
Imediatamente ela pega caneta. Improvisa papel. Escreve no escuro, novamente.
Pensa em sua cidade, por que não mais a inspira às palavras.
Fica tranquila, percebe que sua Veneza é ela, a mesma. Amor dela, conhecida.
E aqui, na cidade de luzes amarelas, ela renasce. Nova, desconhecida, livre. Aqui, paixão.
A ansiedade das viagens a trabalho.
A surpresa das portas abertas.
A paixão da chegada.
Inspiração.
Ela, longe de sí mesma. E todas as outras que pode ser, aqui.
Em São Paulo.
Andrea Campelo Peixoto
31/03/13

sexta-feira, 8 de março de 2013



Ao “Burb’s”, pelos onze anos.
Mais uma sexta-feira, com tudo para ser igual as outras.
Mas logo em suas primeiras horas sou levada aos braços semi-melancólicos da nostalgia. Entro no FB e sou lembrada da data, um aniversário.
Não de um ente querido, familiar distante, amor perdido. E ainda assim vejo que fui convidada para a celebração. Onze anos.
Desta década e pouca conheço o dono da festa há meros seis anos. Bem vividos. Inexoravelmente usufruídos na verdade. Começamos com uma paixão a primeira vista. Digna dos romances mais ardentes e nada bregas. Desde sempre, como típico das grandes histórias de amor, entreguei-me aos seus encantos e o desejei continuamente. Fui retribuída na mesma intensidade, sem cobranças ou amarras, apenas a coincidência incrível da identificação.
As noites foram nossas, e de tantos. Exclusividade nunca pensei ou quis dele ter. Mas ele tinha, sem dúvidas, a minha preferência. Com ele descobri por que toda a adoração bluzeira pelas sextas-feiras. Passei a esperar por elas com fome e sede. Aprendi nele sobre a diversidade de minha cidade, pois a cada noite dentro de seus recantos, senti os cheiros, ouvi os risos, vibrei nas guitarras....ah as guitarras... Nelas embriaguei-me. Encontrei meu recanto de pouca luz, muito som e um espaço maior que qualquer cosmos, onde pude ser eu mesma e soltar-me. Ah e como me soltei....
E os anos passaram. Naquela casa, pouco importava se me ia só, ou cerceada dos meus. Sozinha nunca estive, pois quem nela se encontra, jamais terá a queixa da solidão.
Tive cadeira cativa, primeira fila. Em aniversários, ou em sextas-feiras humildes. Mas hoje senti o fisgar do tempo e das impossibilidades que ele traz consigo. Olhei o convite, sorri com orgulho ao ver o sucesso que mantém aquele lugar ainda tão vivo e fiel a sua singularidade.
“Quero ir”, pensei com a força de minhas vísceras. E antes mesmo de deixar o superego trazer suas censuras, pensei no tempo em que elas não existiam. Lembrei do SIM sempre e instantaneamente dito quando escutava o chamar desse meu recanto e de que a única questão que se lançava era quem seria a parceria boêmia e de que horas deveria chegar para garantir a boa e velha cadeira cativa. E pus-me triste ao notar a avalanche de novas variáveis (ou seriam constantes), que nesse décimo primeiro ano me impediam de estar nos braços de meu amado: o trabalho até o fim do dia, de onde direto precisava seguir para a aula de MBA apresentar uma pesquisa e de onde só estaria livre no final da noite. O cansaço que chegaria com seu peso. E as aulas matutinas do dia seguinte. As impossibilidades dos anos chegaram.
Penso se a juventude poderia ser definida também por essa ausência sublime de impossibilidades. Pela plenitude de simplesmente poder-nos lançar aos braços de nossos amores e jamais pensar em não celebrar sequer uma sexta-feira ordinária, quem  diria um aniversário!
Bem, o fato, independente das definições nostálgicas subliminares, é que não posso ir. Assim como nas grandes histórias, bregas ou não, a paixão transformou-se em seu estado superior. É Burburinho, nesses seis anos tornas-te um amor. Estar em ti não me é mais necessário e o quero não mais por sede, mas por companheirismo e cumplicidade.
E sei que estarás sempre para mim, de portas abertas. Há poucos passos um do outro, diariamente. E que surpresa do destino...hoje posso tê-lo não apenas nas sextas, mas em qualquer dia ameno o suficiente para que em tuas mesas, nas almoços corridos, ou nas guitarras noturnas, eu me deixe levar. Mas não hoje, em teu aniversário.
Celebro de longe, abrindo caminho para a juventude apaixonada. Para que ela possa te conhecer e se entregar perdidamente, pois em ti não há meias-medidas. A programação, como sempre, é a melhor que há de se encontrar na cidade. Ah..é essa singularidade que me faz te amar. Parabéns, meu recanto!
E que venham mais onze décadas e gerações apaixonadas! Que encontram sempre vivas em ti a diversidade de nossa cidade, as cervejas geladas, e as guitarras....
Onde poderemos sempre soltar-nos e sermos nós mesmos.
Ao “Burb’s”, pelos onze anos!
Andrea Campelo
08/03/2013

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


És  
Tu que embalas meu sono
Sem ao menos em minha cama estar
Tu que segues tua vida
Deixando-me, ao longe, avistar
Tu que respondes meus chamados
E faz-me ir ao chamar.
És tu que hoje, sem as mãos, faz-me acalantar
Leva-me ao amor reconceituar
E no tempo, ele, deixar ficar.
És tu que nesse sono, quem faz-me sonhar
Seguir a vida aguardando o avistar
Acalantando, no tempo, cada chamar
Feliz em saber que, é por tu, que nesse novo conceito, quero hoje estar.
Andrea Campelo
26/02/13

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Apenas Saudade

Parece música de Steve Wonder, ou mesmo a versão do Gil, que tem mais gosto.

E é por aí...não há grandes coisas a se passar. A vida corre seu curso intenso, e por vezes monótono.
As costas dóem.
"É tensão", diz a massagista.

Os risos ecoam, as músicas comovem e os bons filmes elevam.

Mas os olhos maream. Sem maiores razões. Por vezes perdem-se num horizonte escondido. Vagueiam.
E a pouca voz que sai embarga.
Se falasse, diria: é apenas saudade.
E eu responderia: mas dói.

Disseram que ela passa. E fica, então, a vida em seu curso ordinário, intenso e cada vez mais monótono.
Nem o Steve, ou sequer o Gil dão gosto.

Ás vezes é bom ter apenas saudade.
Só não precisa doer tanto.

Andrea
23/01/13 (escrito no carro)

Mesmo com o sol em face a queimar essa liberdade
Mesmo a calma tendo me invadido
Mesmo tudo já tão longe.

Hoje acordei com saudades de ti.

Deixo chorar.

Andrea
23/01/13

domingo, 13 de janeiro de 2013


As surpresas que as portas abertas podem trazer.
Com os pensamentos em frenesi,
Todos no gozo da expectativa do que viria a acontecer naquela semana,
Mais uma vez ela esqueceu das surpresas que as portas abertas podem trazer.

O quarto do hotel esteva fresco.
A luz fraca.
Os tons do ambiente, marrons e beges.
Um carpete áspero e curto no chão.
Um cômodo terno, sereno e aconchegante.
Seus cabelos estavam ainda molhados.
Tocava o jazz sanguíneo de Amy.

Abriu a porta nervosa. Arfava.
Ele não sorrio, notara.
Parecia tão nervoso quanto ela.
Abraçou-a forte e com alegria.
Ela disse seu nome, primeira sílaba.
Ele entrou devagar, cauteloso.
Demoraram a cadenciar o diálogo.
Buscavam uma forma de amenizar a tensa áurea de desejo que os levou até alí.

Encheram as taças de vinho e brindaram sem se olhar.
Ela sentou-se no chão. Pensava que ficar na cama era por demais insinuante.
Ele juntou-se a ela no carpete.

E enfim ela começou a enxerga-lo.
Sua voz, reconheceu.
A doçura dos olhos novamente.
Sorria ao sentir aquele tom faceiro e melindroso de contar histórias.
Ascenderam um cigarro, dos mil que fumaram.
Ela trocava de musica incessantemente, na busca pela trilha perfeita.
Até que enfim achou Paul e seu “The Best”, o álbum da noite.

E sem aviso, ele se aproximou para ver o CD.
Tirou os cabelos dela que caiam nos olhos, em mechas de um ouro-alaranjado, que cheirava a Oriente.
Puxou pelo pescoço, seu rosto e a beijou.
Ela liso, desliava. Ela pensou.
E sentiu todos os dias daqueles  dois meses e meio que estavam entre aquele momento
E a primeira noite. Onde tocava aqueles mesmos lábios, numa varanda não muito distante dali.
Tocou o rosto dele, os cabelos.
Lembrou do tempo que seu pensamento esteve nele e da falta que sentiu quando longe.
E fechou com força os olhos, lançando-se em seus braços.

A noite passou. Sem ter como ser escrita.
Ela a viveu, feliz.
Não sentiu medo.
Quis ver mais sobre aquele pisciano que quebrava suas travas e auto-flagelos.
Quis saber se ele estava bem e o que tinha aprendido ns nova vida que o tomara.
Quis senti-lo mais próximo, real.
Teve, então, tudo o que quis naquelas horas.

O viu vestir a camisa branca, maculada.
E novamente não o conseguia enxergar tão bem.
Mas já sozinha naquele bege, sorriu.
Percebeu que Paul, mais que nunca, era seu favorito.
E que tinha em sí o suficiente para bem mais que dois meses e meio de saudade a sentir.
Levantou e desligou o som.
Ascendeu mais um cigarro.
A porta estava aberta.
Andrea campelo
2013

domingo, 6 de janeiro de 2013


Vejo a cidade pela janela do taxi
E percebo que toda ela que for parece mais romântica ao término do fim da semana,
Quando se aproxima às 22h.
O movimento quieto dos carros
As luzes amareladas
A noite a esperar o amanhã de desespero,
E as janelas dos prédios em mil cores de tv ligadas,
A exalar a saudade do descanso injustamente curto.
Mas as ruas estão com um Q de romantismo no ar.
Ou sou eu que me apaixono sempre que chego...
Andrea Campelo
06/01/13

sábado, 5 de janeiro de 2013


As viagens que o coração faz, a trabalho.
Começamos a vida profissional numa batalha sufocante, com um ideal sempre em mente. Uma realidade saudosa, que parece tão longe. Materializamos mentalmente os detalhes dessa realidade não vivida e passamos todos os nossos dias direcionados a ela. Com uma fome voraz.
E foi há pertos três meses que encontrei-me num desses meus lugares. Pensei nisso quando estava no avião rumo a São Paulo, pelo novo trabalho. E enquanto passavam velozmente os quilômetros aéreos pela janela, eu não conseguia evitar o sorriso nos lábios. Atrelado, vinha um frio no estomago, quase um medo. Havia coisas novas demais ali na minha frente. Coisas que ainda não haviam passado e exatamente por isso me apavoravam encantadoramente.
Voltava-me toda a esse novo desafio. O trabalho era a força motriz das sensações e até mesmo das horas. Elas pareciam passar única e exclusivamente para que ele pudesse acontecer de acordo com todo o esforço de minha caminhada até aquele acento da Avianca.
E assim deveria ser, não seria? Então, quem estava a pagar pelas horas no ar e as 15 noites em hotel executivo? Quem além da nova e exótica corporação multinacional era a dona daquela viagem que me levava a materialização física de minhas buscas incansáveis de outrora? Era assim, meu cérebro labutador quem deveria viver esse momento e apenas ele teria permissão para se fazer satisfeito nessa quinzena.
Era o que deveria ter acontecido.
Acabei, inocente, por esquecer a real índole de minhas entranhas. Sequer passou pela minha cabeça o fato de que sair de casa, por-me fora do meu enclausurado dia a dia seja por qualquer motivo, é mais do que um objetivo de trabalho. É uma necessidade de perfil. Isso sou eu, que pulso por essas oportunidades, guiada pela sede de um coração inquieto, curioso. O meu.
Esteve ele, então, escondido, ardiloso, apenas a esperar nessa viagem. A debochar.
Mas sua alegria sádica durou pouco. Bastaram alguns dias para que a viagem que marcara o início de meus sonhos de profissão fosse promovida a um mergulho em descobertas e sensações pessoais, das mais íntimas. E o coração foi um sabido vencedor, podendo deixar de se esconder, escancarando aos meus olhos o que Sampa trouxe a ele.
Os dias passaram repletos de aprendizado e grandeza. E no coração a viagem era quase assim tão intensamente vivida. Em horas, em sorrisos, em lágrimas, em êxtases, em ressacas e em descobertas.
E nas horas finais que antecederam o embarque de volta, tive a prova que me faltava. Uma sequencia de lapsos humanos no trabalho me levaram a uma contrariedade vasta e intensa. Passei horas no saguão do hotel, sozinha, como que com um espelho a minha frente a me chamar de ridícula. E quando tudo acalmou e o taxímetro já calculava minha corrida para Guarulhos, desabei em choro. Ele parecia vir do estomago. E saía aos soluços.
Foi quando percebi que aquilo na verdade nada tinha a ver com o estresse dos colegas. Era a outra viagem que me fazia chorar. Alí estavam saindo as rusgas, as indignações e a euforia não dita, guardada pela falta de horas suficientes. Sentia a pele latejar como um dente cariado. A frustração do ocorrido no hotel me colocara em frente ao precipício de meus limites, e meu coração jogara-me nele.
No acento da Gol, já afastando-me daquela cidade-sonho, o sorriso não estava mais nos meus lábios, ou em qualquer lugar. Havia o orgulho da conquista pelo novo mundo, colegas, ruas e afazeres. Mas havia a vontade de ficar. Pois meu coração havia viajado, e não queria voltar.
Mas os dias passaram, e novos sonhos profissionais se mostram. Tenho, então, uma nova imagem mental, uma nova realidade a perseguir. E para chegar lá, meu coração há de seguir em muitas viagens a trabalho.
Andrea Campelo
05/01/2013

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Quando o amor sangra, se auto enaltece, e
Retorna não mais que o silencio
É tempo de arrumar as malas e partir.
Quando a batalha foi verdadeira ,
Quando lutamos o quanto havia de possibilidade...
E os sonhos permaneceram apenas no singular
É chegada a hora de se retirar.
E Ee olho para as frestas
Revejo as cenas, frases
Sorrio em cada lembrança
E nos cheiros dos  detalhes
E acredito, intensamente, que eram nossos.
Ainda com os olhos virados para trás do tempo
Penso que até o lembrar terá que, um dia, acabar.
Prolongo...
Toco as músicas, tomo das cervejas, vejo as fotos.
Espero a voz. Menor que fosse.
Apenas ele, meu cúmplice quieto.
E enfim eu choro.
Sinto saudade.
Quero ficar.
Fecho as malas, guardo as fotos.
Vejo os novos convites, coloco um batom.
Ainda sangro.
O teu silencio cicatriza.
E o meu morre: Adeus, meu amor.
Andrea Campelo
03/01/13