quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


As cinco primaveras

É de ti que toda a falta é mãe,
Meu pai.

E o tempo, cercado em sua onipotência,
Faz-se indiferente.
Passa despretensioso e humilde. Quase nada leva consigo.

Na quinta primavera sem ti, assim como na primeira, o dia é cinza e no ar paira tudo que o tempo não teve interesse em levar. Ou paira em mim.
O grito clemente por tua voz. Pelo sentir do timbre. Do cheiro que ela exalava. Por mais cinco segundos, não anos.
A vontade estrupícia de ter, da nova fé que me nasceu, uma notícia tua que fosse para tirar-me, enfim, o maior medo. O monstro que rasga o peito desde que vi teus olhos fechados: o medo de nos esqueceres.

Eu sou tão você, tão forte e profundamente. Sinto os traços, os genes, as lembranças. Mas e você, meu melhor amigo do mundo, será ainda eu, nós?
Seja meu pai....por favor...seja.
As cinco primaveras moveram tanto, mas deixaram inertes o mesmo pedido, na lágrima ácida e urgente: não esquece desse amor. Onde estejas e para onde fores. Promete-me homem, responde-me! Preciso pensar que o tens em ti, para nós. Preciso ter a certeza dele em ti, como ele é certo em mim de sempre, para sempre.

Como é certo este amanhecer cinza.
Como é certo o passar indiferente do tempo humilde.
Como é certa a falta.
Como é certo esse amor, meu pai.

Andrea Campelo
09/10/11

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