sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Hora do almoço, uma cerveja, sem blues.
É sexta-feira. Dia  de espremer das horas a maior produtividade possível.
É a última do ano. O mundo continua sua translação. Nada acabou. A não ser a semana que está com hora marcada.
O sol de cozer anuncia o fim do primeiro expediente e no carro a gente pensa... a vista é a praia e na cabeça uma tristeza sem fundamento inunda o cheiro do ar condicionado.
Penso numa cerveja e a fome aperta. Lembro que a vida trás de presente uma das maiores utilidades dos colegas de trabalho, que compartilham os mesmos vícios: a chegância pela companhia de mesa de bar.
Posso contar nos dedos de uma mão as vezes que me permiti tamanho disparate corporativo. Como boa RH que tento ser, exemplo de sobriedade. Às favas, meu amigo. Como o estatus civil não me permite outros deleites dignos do dia (há os que dizem localmente que é o “da madeirada”), invoco a gelada!
E os companheiros (sim, homens, claro!), estão firmes à espera. Sequer ousam titubear ao ouvirem a frase-cumprimento: Vamos onde tem cerveja.
E no Bairro do Recife, berço de nossa Cidade, onde mais eu poderia ir parar? Quem conhece a autoria sem juízo sabe....
As portas do bom e velho Burburinho são discretas, mas sempre abertas.
Entramos sem cerimonia, como há de ser nessa casa sagrada, sentamos embaixo do ventilador, pois a gelada por sí só não dá conta do solstício Recifense, e nem o cardápio se fez necessário. Desce ela, a verdinha!
Outra utilidade das amizades masculinas, além da clássica conversa sem pormenores ou arestas, é a de ausentar necessidade de iniciativa por parte de nós mulheres. Os copos chegaram tinindo e mais sedentos que os dois mosqueteiros e a dama.
Não há dúvidas que a semana aguarda por esse brinde de sexta-feira. Os copos saludam, as gargantas tremem e o coração palpita de ansiedade. E desce o primeiro copo. Inteiro, ininterrupto, irretocável.
O Blues, prata da casa, descansava para a noite, mas juro que lá no fundo pude ouvir a guitarra de Morcegão chorando de alegria pelo êxtase dos três colegas labutadores. As guitarras melhor que qualquer coisa, sabem o quanto merecem uma gelada nós que suamos a semana inteira em troca do trocado.
 As paredes, os quadros, as mesas, todas as mesmas que guardam tantos segredos dessa autoria outrora bohemia, pareciam não estranhar. Afinal, o semblante era o mesmo, apenas o relógio marcava um outro expediente. As conversas, inebriantes como as das noites mais farristas. Mas a comida restringiu-se às poucas calorias, pois ir além é querer demais. É fim de ano e o feriadão reserva ainda uma pá de exageros.
E quem, em sã consciência pensaria em voltar ao trabalho?! Vamos então fazer aquela hora....fingir que não se vê o relógio. Espreguiçar a barriga cheia e procurar um café expressamente forte.
É, mas há de se deixar a cota mínima de 3 verdinhas, uma para cada um. E dizer até logo.
Sexta-feira não nos dá o luxo de não ter segundo expediente.
Mas o ano está apenas por. Cheio delas. Sem cerimônias, com horário de almoço. Com ou sem blues.
Andrea Campelo
28/12/12

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