No dia seguinte, ela pensava naquele vento,
Que sem saber soprava em outra praia no mesmo instante em que tocava seu rosto.
Eram naqueles minutos, presos no carro rumo ao trabalho, que todos os pensamentos e nenhuma conclusão lhe chegavam.
Os quilômetros que separavam sua casa e seu sustento não apenas eram seu mergulho musical diário, mas algo indescritivel, que ela mal sabia se a incomodava, ou satisfazia.
Naquela noite teve a catarse primeira, quanto aos emaranhados de ruas que transpassavam seu caminho usual.
Em frente ao mar escuro por sobre o qual pairavam as luzes distantes dos cruzeiros. Em frente a sua mais nova mentora, dois copos de cerveja e necessários tragos de cigarro, ela confessou.
Mal pensara e sua verdade esvaira-lhe.
Pela primeiras vez em um tempo que não sabia contar, os quilômetros, as ruas, os minutos que precediam seu trabalho e que deste retornava para casa, eram todos dele.
Falou uma vez. Pausou.
Repetiu com outros signos, sentiu que precisava. Todo o tempo que não lhe era do labor – onde encontrava sentido -, pertencia unicamente a ele.
Encontrou comoção nos olhos que a ouviam ao contar do impossível, do elo infanto-juvenil que reaparecera em algum lugar do presente.
E não fazia idéia então, ao fechar os olhos, que aquele vento que lhe soprava o rosto era um só, mas que tocava duas praias naquela noite.
E na manha seguinte despertou, enfim ciente: o vento não era só seu, e as horas seriam só dele.
Andrea campelo
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